1 – Introdução
Os besouros rola-bostas (Coleóptera:Scarabaeidae:Scarabaeinae) são insetos detritivoros e podem ser divididos em três grupos quanto ao hábito alimentar: coprófagos, alimentam-se de fezes; saprófagos, alimentam-se de frutos e matéria vegetal em decomposição; necrófagos, alimentam-se de cadáveres. Estes besouros desenvolvem um importante papel na ciclagem de matéria orgânica nos ecossistemas e são frequentemente utilizados em trabalhos de ecologia, comportamento, entomologia econômica e entomologia forense (Halffter e Matthews, 1966).
Muitos besouros rola-bostas possuem o hábito de processar excrementos fecais, preferencialmente de mamíferos, formando uma bola de alimento que pode ser rolada ou enterrada, o qual serve como substrato para a oviposição e futuro alimento de suas larvas (Halffter e Matthews, 1966). Este comportamento faz dos besouros rola-bostas importantes inimigos naturais sobre a população mosca dos chifres que parasita rebanhos bovinos (Flechtmann e Rodrigues, 1995). Os rola-bostas também atuam como agentes secundários de dispersão de sementes de muitas espécies de árvores nas florestas neotropicais, participando do processo natural de regeneração da floresta (Estrada e Coates-Estrada, 1998).
Os rola-bostas são bem conhecidos em termos taxonômicos e funcionais, estão distribuidos em 12 tribos, 234 gêneros e 6.000 espécies distribuídas em todo o mundo (Hanski e Cambefort, 1991). Para o Brasil são registradas 618 espécies incluídas em 49 gêneros (Vaz-de-Mello, 2000). Sendo considerado um grupo monofilético e taxonomicamente bem definido (Halffter, 1991), com grande potencial para estudos sobre a biodiversidade (Halffter e Favila, 1993).
As alterações e modificações no habitat, sejam elas de origem antrópica como a fragmentação (Nichols et al., 2007; Gardner et al., 2008), ou mudança natural na estrutura da vegetação (Davis et al., 2008; Durães et al., 2005), podem afetar a riqueza e a composição da assembléia dos besouros rola-bosta (Davis et al., 1999; Milhomem, 2003). Muitas espécies de rola-bostas tendem a ser especialistas de habitat (Halffter, 1991), respondendo as mudanças no gradiente ambiental (Durães et al., 2005; Almeida e Louzada, 2009). Assim, este trabalho teve como objetivo analisar a riqueza e a composição da assembléia de besouros rola-bostas em áreas de mata e de pastagem em Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil.
2 - Material e Métodos
2. 1 - Área de Estudo
Foram delimitadas duas áreas, um fragmento de mata estacional semidecídua, (14°40`04.12”S 57°23`14.12”W) e uma área de pastagem (14°39`05.43”S 57°25`35.58”W). Ambas as áreas encontram-se próximas à cidade de Tangará da Serra, com distância de aproximadamente 5Km entre si.
2. 2 - Coleta dos dados
Para a coleta dos besouros rola-bostas, foi utilizadas armadilhas do tipo pitfall, constituída de um recipiente plástico de 19 cm de diâmetro e 11 cm de profundidade com uma cobertura para proteger de folhas e da chuva, enterradas ao nível do solo. No seu interior foi colocado um recipiente de 100ml contendo isca, foram utilizadas duas iscas: baço bovino em decomposição e fezes humanas fresca, exposta por um período de 48h (01-02/07/09).
No fragmento de mata e no pasto foram delimitados seis pontos, distantes 50 metros um do outro. Para cada ponto foram instaladas duas armadilhas, distantes três metros uma da outra, uma armadilha com baço bovino em decomposição e a outra com fezes humanas. O primeiro ponto da área de mata foi instalado à 50m da borda da mata, para retirar o efeito de borda. Após o termino das coletas o material foi levado para o laboratório de entomologia da UNEMAT, campus de Tangará da Serra, MT, onde foi triado, acondicionado em mantas entomológicas e identificado até o nível de gênero.
2. 3 - Análise dos dados
Primeiramente para a análise dos dados, a riqueza e a abundância das repetições foram somadas, obtendo-se um total para cada área. Após a soma obteve-se uma curva de acúmulo de espécies confeccionada a partir do programa EstimateS Win.7.52. Para comparar a composição de espécies de besouros rola-bostas entre as duas áreas amostradas aplicou-se o Coeficiente de Similaridade de Bray Curtis, para isso foi utilizado o software livre R (R Development Core Team, 2007).
3 - Resultados
Foi observada uma riqueza total de 15 espécies, a área de pasto apresentou a maior riqueza 10 espécies e na área de mata ocorreram sete espécies de rola-bostas (Figura 01). Foi coletada uma abundância total de 68 indivíduos, 44 destes no pasto e 24 na mata. A área de pastagem apresentou oito espécies exclusivas (Canthon sp.1, Canthon sp.2, Canthon sp.3, Canthidium sp.3, Canthidium sp.4, Canthidium sp.5, Atheuchus sp.1, Onthophagus sp.1), enquanto que na área de mata apresentou cinco espécies exclusivas (Dichotomius sp.1, Dichotomius sp.2, Eurysternus sp.1, Canthidium sp.2, Sylvicanthon sp.1). Apenas as espécies Canthidium sp.1 e Ontherus sp. ocorreram nas duas áreas de coleta (Tabela 01). O resultado obtido através do índice de Bray Curtis foi de 8,80%.
4 - Discussão
A baixa riqueza e abundância obtida neste estudo, podem ser explicadas pelo fato das coletas terem sido realizadas em época de seca. Silva et al (2008) que trabalharam em época de chuva, em um fragmento próximo ao local de coleta deste trabalho, utilizando pitfall com fezes humanas, coletaram 387 indivíduos distribuidos em 13 espécies e utilizando fígado bovino coletaram 179 indivíduos pertencentes a quatro espécies. A maior riqueza e abundância dos besouros rola-bostas no cerrado é observada no inicio da estação chuvosa Milhomem (2003).
O ciclo de vida desses insetos é influenciado pelas condições climáticas, principalmente pelos índices de pluviosidade, com os adultos aparecendo no início das chuvas e permanecendo ativos durante as semanas seguintes e nidificando no final das mesmas (Diniz, 1997 apud Milhomem, 2003).
A maior abundância coletada foi observada na área de pastagem, o que pode ser explicado, pelo fato da área apresentar criação extensiva de gado, onde a disponibilidade de recursos alimentares se torna maior para os rola-bostas, quando comparada com a área de mata. Segundo Assis júnior 2000, locais com menor qualidade e maior quantidade de recursos, como pastagens, tende a apresentar menor riqueza de espécies, porém maiores abundâncias populacionais. Em estudo feito em áreas de floresta e pastagens, foi observada uma riqueza maior em pastagem (Assis júnior, 2000; Halffter, 2001).
As diferenças na riqueza e abundância entre as áreas abertas e mata, pode ser explicado, pelo fato do fragmento de mata estudado ser relativamente pequeno (menos de 10Ha) o que pode acarretar na baixa diversidade de mamíferos, reduzindo a disponibilidade de recursos alimentares. Vários trabalhos, observaram maior riqueza de espécies em áreas mais abertas, quanto comparadas com áreas de mata (Milhomem, 2003; Spector e Ayzama, 2003). Entretanto diferente dos dados obtidos no presente trabalho, outros estudo encontraram maior riqueza e abundância em áreas de mata (Costa et al. 2009; Almeida e Louzada, 2009; Durães 2005).
A baixa similaridade entre as assembléias de besouros rola-bosta, pode ser explicada pelo que a maioria das espécies destes besouros são especialistas de habitat e respondem prontamente as variações ambientais (Halffter, 1991). Vários trabalhos observaram baixa similaridade entre as assembléias de besouros rola-bostas de áreas abertas, quando comparadas com áreas fechadas (Milhomem, 2003; Spector e Ayzama, 2003).
5 – Conclusão
Podemos concluir que as áreas de pastagem apresentaram maior riqueza que as áreas de mata, constatando baixa similaridade entre as assembléias de besouros estudadas.
A importância de postar este resumo expandido é porque ele foi minha iniciação científica, o primeiro trabalho que publiquei, juntamente com meus colegas, e o Doutorando Ricardo José da Silva, a quem dedico está postagem.